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A trajetória traçada por Dita Von Teese em nada se parece com as de tantas profissionais ligadas à indústria do sexo: nasceu em um lar estável numa pequena cidade e cursou a universidade. Tornou-se stripper por gosto e fez de seu nome sinônimo de um sedutor resgate conceitual.
Poucas coisas mais comuns durante a Segunda Guerra, além das armas e das mortes, que as fotografias de mulheres em posições insinuantes presas nos armários dos soldados e marinheiros. As pin-up girls foram um dos primeiros indícios do que iríamos chamar mais tarde de cultura de massa, ou cultura pop, atingindo não só aqueles homens do front, mas também um número incontável de mulheres que estavam finalmente autorizadas pela sociedade a partilharem algo além de receitas de bolo: idéias de sensualidade feminina, fantasias e jogos eróticos alimentados. Não foi atoa que nos anos de 1950 certos cabelos, sapatos de salto alto, meias transparentes e cinturas muito marcadas haviam se convertido em objeto de desejo das mulheres de todas as classes.
Lá na minúscula cidade de Rochester, localizada nos subúrbios de Detroit, a senhora Sweet contava a exaustão para as filhas tudo sobre o filmeHow to Marry Millionaire, estreado em 1953 pela atriz Betty Grable ao lado de Marillyn Monroe. Uma das três meninas prestava atenção especial e pedia a mãe que lhe vestisse como Grable e a manicure lhe fazia a vontade, vestia também as outras do mesmo modo porque não tinham dinheiro para guarda-roupas exclusivos. E parecia que a Era de Ouro de Hollywood estava ali permanentemente.
Aos treze anos de idade, Heather tivera de largar as aulas de balé por um trabalho como vendedora em uma loja de lingerie num destino não muito diferente de outras meninas da sua idade na região. Mas, porque não esquecia as histórias que a mãe lhe contava, o emprego não se parecia muito com um fardo, mas com um lugar cheio das peças como as que via nos cartazes de filmes dos anos 40 e 50. As lingeries se tornaram uma obsessão que ela começou a cultivar a partir dali; estava mesmo resolvida a desenhar as suas próprias, a ter uma marca.
Mas os seios só cresceram o suficiente para que ela começasse a usar um sutiã perto dos dezessete. A mãe a levou para escolher a peça marco na vida da maioria das jovens e lhe dera um branco de cotton. Ficou decepcionada: eu queria um daqueles com cinta-liga igual as da Playboy do meu pai. Pouco tempo depois, morando em outro estado, adicionara às vendas o trabalho como modelo de lingerie. Dalí para as roupas íntimas fetichistas foi um caminho claro.
Os caminhos que levaram Heather a tornar-se stripper é que são obscuros porque ela já cursava a faculdade de Design de Costumes quando adotou o nome Dita Von Teese depois de escolhê-lo abrindo uma revista de lingeries ao acaso. Os anos 80 iam na metade quando ela começou a se apresentar pelas noite da California, onde ficava a universidade. Pensou que seria um mundo fascinante, como esperava que o primeiro sutiã fosse ser fascinante, mas aqueles shows todas as noites, todos iguais, todos de cinco minutos logo se mostraram um tédio total. Todas as garotas eram loiras bronzeadas com grandes peitos balançando em câmera lenta. Resolveu montar uma apresentação que reunisse o fetiche e o retrô pois era o que gostava de verdade. Não empolgou as grandes platéias mas, meses depois, ela seria a modelo amarrada por cordas na capa do livro A sedutora Arte da Bondage Japonesa.
O underground a levaria para uma steakhouse onde só haviam pessoas do underground reunidas e entre essas estava um popular cantor underground chamado Marilyn Manson. Casaram-se. É bastante obvio que Dita Von Teese não teria pudores de aproveitar o relacionamento com a satânica figura de Manson para promover suas idéias do que poderia ser uma apresentação de strip tease. Fora com ele à programas de entrevistas, a entregas de prêmio e chamava a atenção de todos com suas roupas vintage de alta costura, sua classe e elegância irretocáveis. A proposta de Dita era a de transformar a mostra de mulheres nuas, as ousadias eróticas e peças fetichistas no que elas eram há 60 anos atrás: um deleite para os homens e uma partilha íntima para as mulheres. As pin-ups girls estavam de volta no seu melhor estilo. O romance naufragou o ano passado.
Dita Von Teese busca o resgate de antigos valores e seduções que andaram bastante esquecidas, certos símbolos que hoje exercem sobre nós um fascínio cada vez maior. Se o burlesco e o strip-tease retrô estão novamente em alta, inserindo nos guarda-roupas das mulheres novas peças e na fantasia dos homens novas sensualidades, todos revestidos com uma áurea de leveza e sexo em insinuações ingênuas-sacaninhas, ela é sem dúvidas a responsável. Quem é capaz de ficar indiferente diante da sua marca registrada, o número de dança com a taça de martini?
Para os que ainda não conhecem todo o interessante leque de possibilidades que giram em torno da figura de Dita, vale uma leitura de Burlesque and the Art of the Teese/Fetish and the Art of the Teese, lançado este ano e, claro, uma visita a sua página pessoal onde se encontram, entre informações, as peças de sua própria marca de lingeries.
Texto e desenho no Obvious.