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Todo mito de nascimento rende tributo ao argumento do acaso. Era 1977 e o universitário Roy Raymond entrou numa loja de departamentos californiana disposto a comprar um presente para a esposa, uma lingerie. Algumas voltas por cabines depois, estava frustrado nas boas intenções do seu erótico; muito constrangido pelo ambiente, voltou para casa de mãos vazias. Haviam oprimido o homem errado porque Roy Raymond, estudante da Stanford Graduate School of Business, poucos meses depois, abria sua própria loja de roupas íntimas femininas, muito diferente das que se viam até ali, um espaço envolvente capaz de deixar homens e mulheres a vontade para escolher, recusar ou comprar produtos ao fresco espírito da época: em 2006, o império Victoria's Secret anunciaria uma receita de 3.222 bilhões de dólares.
Em 1991, duas amigas adolescentes visitavam descompromissadamente uma loja de departamento quando, por acaso, uma delas viu um anúncio do “Model 92”, concurso em rede nacional transmitido durante um late-talk show alemão. Uma delas convenceu a outra a preencher uma ficha de inscrição; ela era bonita, ora, que custava tentar? Heidi pôs lá seus dados e enviou as fotos pedidas por pura falta de algo melhor para fazer, não imaginava que fosse ter alguma chance porque era tímida, diz, e passava a maior parte do tempo de boca aberta sem nada dizer. Mas a descrente menina chegara às finais do concurso e depois já rumava para casa com um papel onde se liam os termos de um belo contrato para modelagens no valor de US$300,000: o primeiro prémio. A revista Forbes estima hoje que suas receitas anuais ultrapassem os 14 milhões de dólares.
De uma adolescente pouco expressiva para a segunda modelo mais bem paga do mundo – perde apenas para a boa-praça Gisele Bündchen – o caminho percorrido por Heidi Klum foi razoavelmente rápido. Em pouco tempo, tornara-se uma das modelos mais solicitadas por revistas como a Vogue, Marie Claire ou ELLE trabalhando ainda como musa artística e muitas das incríveis body-paintings da artista Joanne Gair. Ainda vieram as companhas promocionais para a Volkswagen, Mc Donalds, Braun... Mas nada se compararia à que viria ser sua principal atribuição.
Em 1999, a empresa Victoria's Secret já havia sido vendida e repartida para outras corporações, se bem que mantendo seus primeiros conceitos de venda num formato expandido, por exemplo, os catálogos em papel praticamente foram substituído pela internet e agora não só vendem roupas de baixo, como cosméticos, pijamas e sapatos. Sendo conseqüência desses vôos mais altos, o projeto das Victoria's Secret Angels, em 1999, viriam corresponder a essas ambições de mercado quando selecionou para seu cartaz um ofensivo escrete de supermodelos. Absurdamente ofensivo: Tyra Banks, Laetitia Casta, entre outras, estavam na primeira seleção de VS Angels e embasbacaram planeta com seus desfiles deístico-fetichistas onde todas aquelas mulheres belíssimas, semi-desnudas e com asas, desfilavam enquanto acontece um show em plena passarela.
Heidi Klum estava lá, obviamente, era a capitã do time. Na época, estava casada com o estilista Ric Pippino, mas o divórcio deu seus ares oito anos após a união e, como sua imagem, vida e obra já haviam se tornado um parque público, em 2002 todos os jornais noticiariam seu romance com o Chili Peppers Anthony Kieds. O flerte com a imprensa marrom não pararia por ali porque poucos meses depois, ela seria novamente notícia ao anunciar sua gravidez do novo namorado, o formulaúnico Flavio Briatore. Naquele mesmo outono, naquele mesmo dia, os tablóides publicariam fotos de Briotore à beijos inegáveis com uma joalheira.
Helene nasceu em 2004 quando Klum já havia decidido compromissar-se com o cantor Seal num casamento beira-mar no México. Teve com o cantor, com quem ainda está, mais dois filhos a quem dariam nomes extensos. Formariam o que os americanos costumam chamar “a patchwork family”: não sou branca, sou uma penumbra, diz em metáfora para rebater preconceitos. Somos todos sombras que nos amamos e nos juntamos.
Além de frases reflexivas, Heidi Klum reúne também outros talentos: é escultora, designer de jóias, atriz nas horas vagas e, no momento, apresentadora e produtora de dois programas de TV, o Project Runway e o Next Top Model Alemanha. Nessas duas últimas tarefas não poderia estar obtendo maior êxito e o Project Runway, competição que mostra a concorrência entre designers de moda por um contrato milionário, foi vencedor do Peabody Award, além de concorrente a diversos Emmys.
Sim, Heidi está longe de ser mais uma modelo insípida e é uma rara combinação de beleza estonteante e agudeza de espírito, o que lhe permite tanto estar com toda seriedade profissional num outdoor da Gucci quanto fazer campanhas cômicas onde o Will Ferrell lhe dá uma dentada na nádega ou ainda demonstrar a maior utilidade dos sutiãs de enchimento é impedir que os mamilos fiquem de prontidão por aí sem serem solicitados. Hiedi Klum é seu próprio mito subvertido.
Cartoon e texto no Obvious.